blog habilis

Estou fazendo fisioterapia neurológica. Como saber se estou melhorando?

Durante a reabilitação, a primeira coisa a ser observada é a própria percepção de melhora do paciente. No entanto, as vezes e velocidade de recuperação para que esta percepção ocorra é lenta, fazendo com que surjam dúvidas com relação à recuperação.

 

Autor: Gilberto Vieira Júnior

Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Neurofuncional

Como funciona a recuperação após uma lesão neurológica?

Atualmente existem várias teorias acerca do processo de recuperação após uma lesão neurológica. Sabemos que nosso corpo possui grande capacidade de recuperação e que, independente da fase da vida, há potencial para que ocorra a tão conhecida Neuroplasticidade. 

Após uma lesão neurológica, como por exemplo no AVC, células cerebrais são comprometidas e suas funções são prejudicadas. Estímulos que deveriam sair do cérebro para serem levados aos braços, pernas e restante do corpo, passam a não ser enviados adequadamente. Como consequência os movimentos são alterados, ou podem até estar ausentes, determinando as sequelas motoras.

Apesar de terem sido lesadas, as células nervosas possuem capacidade de recuperação, podendo ser parcial ou completa. A dimensão da recuperação irá depender de diversos fatores, como tamanho da lesão, tempo de lesão, idade, capacidade de recuperação individual, cuidados clínicos e de reabilitação. 

Importante saber que as sequelas podem ser revertidas parcial ou completamente com adequado cuidado clínico e de reabilitação.

Fases de recuperação

Uma dúvida constante na reabilitação diz respeito à recuperação. Frequentemente pacientes possuem questionamentos como:

Apesar da resposta a cada uma destas perguntas ser bastante subjetiva, existe um passo a passo que adotamos para deixar mais concreta nossa percepção de melhora. 

O primeiro passo é estabelecer o estado inicial do paciente através de uma avaliação bastante sistematizada. Em seguida, fases de evolução baseadas em teorias de aprendizado motor são observadas e consideradas como se fossem “marcos”, demonstrando que o paciente esta progredindo no sentido da recuperação. 

Estas fases são divididas em 3: 

 

Aquisição

Trata-se de adquirir a capacidade de execução de uma nova tarefa ou habilidade. Um exemplo é o desenvolvimento da capacidade de pegar um determinado objeto em um paciente com perda de movimento funcional de membro superior  após um lesão cerebral. Inicialmente percebe-se uma inabilidade em executar tal tarefa. Com o passar do tempo e realização de reabilitação, ganhos são adquiridos e o paciente consegue realizar a atividade. Neste momento dizemos que houve a Aquisição, o primeiro passo a ser observado pelo profissional fisioterapeuta. Características como sequência do movimento, coordenação e força são componentes relacionados à eficiência da execução da tarefa, e devem ser observados para que sejam trabalhados no sentido de ganho de qualidade do movimento.

Retenção

Você já percebeu que as vezes aprende uma determinada tarefa, consegue executar, mas no dia seguinte é como se tivesse perdido novamente esta capacidade? Isto acontece porque conseguir a realização, através do processo de Aquisição, não significa que tenha já ocorrido o aprendizado. Aprender, ou reaprender (no caso das lesões) depende de conseguirmos “reter” tal habilidade como se ela fosse gravada em nosso cérebro. Este processo recebe o nome de Retenção, ou seja realizar uma tarefa já aprendida anteriormente após um período de tempo em que ela tarefa não foi praticada. Nosso cérebro precisa criar novas conexões para que isto ocorra, e isto depende de repetições. Quanto mais praticamos, mais formamos novas conexões, adquirimos qualidade no movimento e caminhamos no processo de recuperação.

O indivíduo pode ser testado neste quesito, por exemplo, sendo solicitado que realize, no início da terapia, uma habilidadeque já foi desempenhada na terapia anterior. Neste momento o terapeuta não fornece dicas a respeito da execução, apenas observando a qualidade da execução da habilidade. Caso o indivíduo realize a tarefa adequadamente, podemos inferir que o processo de retenção ocorreu.

Transferência

Esta fase é extremamente importante por se tratar de uma adequação para a tão desejada “vida real”. O objetivo da reabilitação é preparar o paciente para realizar tarefas do dia a dia. De nada adianta ele conseguir fazer as tarefas na clínica de fisioterapia, um ambiente controlado, se não conseguir transferir essa capacidade para sua casa, trabalho, e outros ambientes sociais. 

Transferência, portanto, é a capacidade de realização de uma tarefa em um contexto diferente do aprendido originalmente durante a aquisição. Um exemplo prático é a capacidade de o indivíduo conseguir andar no supermercado após conseguir realizar a marcha adequadamente no ambiente clínico. A capacidade de transferência nos informa se a prática realizada durante a aquisição foi capaz de produzir um nível de aprendizagem que prepara o indivíduo para a fase pós-aquisição. 

Concluindo:

É necessário após aprender uma tarefa, que esta seja retida (realizada múltiplas vezes, dia após dia), e que seja capaz de ser realizada em outros ambientes fora da clínica, demonstrando que tal habilidade agora sim foi aprendida. Este é o passo a passo utilizado para tornar concreta a avaliação dos ganhos terapêuticos em qualquer patologia neurológica.

Dicas para melhorar sua recuperação

Levar a sério o momento da reabilitação requer a atenção e cuidado para alguns pontos. Desta forma, podemos aumentar as possibilidades de recuperação e fazer com que o reaprendizado dos movimentos comprometidos seja feito com a melhor qualidade possível.

Conheça o especialista

Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia Neurofuncional. 

Atualmente é chefe do serviço de Reabilitação Neurológica da clínica Habilis.

Coordenador do Curso de Pós-Graduação de Fisioterapia Neurofuncional da Faculdade Inspirar.

 

Assunto
Gilberto Vieira Júnior
Posso ajudar?